“Todos sabem que Einstein fez alguma coisa espectacular, mas poucos sabem o que ele realmente fez”. Bertrand Russel.

Um episódio da Vida de Albert Einstein

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É bem conhecida a faceta de rebeldia que fazia parte da personalidade de Einstein. Esta maneira de ser criou, segundo alguns autores, as condições psicológicas que permitiram a Einstein ser um criador profundamente original. E por outro lado causa, sobretudo na juventude, fartos problemas a Einstein.

A Teoria da Relatividade provém de uma profunda crítica de conceitos tão profundamente enraizadas na consciência das pessoas que eram tidos como evidentes. É o caso do espaço, do tempo e da simultaneidade. A crítica que Einstein realizou era absolutamente necessária para o progresso da Física do princípio do século XX. Estas eram condições objectivas favorecendo o aparecimento da Teoria da Relatividade. Mas que só um jovem rebelde, alheio a um certo número de preconceitos científicos, poderia realizá-lo, parece ser um ponto indiscutível hoje em dia.

   Quando estudante, Einstein foi profundamente influenciado por um outro rebelde no campo da Mecânica – Ernst Mach (1838-1916) físico austríaco amplamente conhecido, entre outras razões pelas referencias que lhe faz Lénine no livro . “Materialismo e empirocriticismo”. Mach, na sua obra “História da Mecânica” exerce já uma crítica profunda dos conceitos (que hoje nós olhamos como preconceitos) de base da Mecânica e da Física em geral. A razão porque foi Einstein, e não Mach, o fundador da Relatividade é um ponto com interesse mas que não abordaremos aqui.

   Neste artigo interessamo-nos sobretudo as (dificuldades sentidas pelo jovem Einstein para se fazer reconhecer no mundo científico da sua época.

   Einstein terminou a sua licenciatura em Física e Matemática na Escola Politécnica Federal de Zurich em 1900 e tentou um lugar de assistente em Universidades suíças ou alemãs. Mas como a sua personalidade não inspirava confiança aos seus antigos professores não conseguiu as necessárias recomendações. Até 1902 ganhou a vida através de pequenos expedientes e de empregos de ocasião: deu explicações, fez cálculos trabalhou aqui e ali. Em 1901, com 22 anos, apresentou uma tese de doutoramento à Universidade de Zurich que esta considerou insuficiente.

   Einstein começa a sentir-se desesperado num mundo em que parecia não ter lugar. Foi em 1901, nesta situação de desespero, que ocorreu o episódio que motivou este artigo. Einstein tinha publicado um artigo na revista alemã “Annalen der Physik” e enviou uma cópia ao célebre Prof. Ostwald – mais tarde Prémio Nobel – com uma carta de que se transcreve: “Uma vez que me inspirei no seu livro de química geral… Tomo a liberdade de lhe enviar uma cópia do meu artigo. Tomo a ousadia, também, de lhe perguntar se não teria um lugar para um físico matemático … Tomo a liberdade de lhe fazer este pedido unicamente porque não tenho qualquer meio de vida …”.

   Apesar de ter voltado a escrever, Einstein nunca obteve resposta.

   É neste momento que o pai de Einstein preocupado, como pai, com o estado de abatimento do seu filho, toma a iniciativa de escrever ao Prof. Ostwald a carta seguinte:

   “Peço-lhe que desculpe um pai que ousa dirigir-se-vos, caro Professor, no interesse do seu filho … O meu filho Alberto Einstein tem 22 anos… Toda a gente capaz de emitir um julgamento aprecia o seu talento … O meu filho sente-se profundamente infeliz com a sua actual falta de emprego e, em cada dia que passa mais se convence de que falhou na sua carreira … Porque o meu filho o respeita e admira … Tomo a liberdade de rogar que leia o seu artigo … e tenho a esperança de que lhe escreva algumas palavras de encorajamento para que ele volte a sentir alegria de viver de trabalhar.

   O meu filho não tem o mínimo conhecimento deste meu gesto.

   Este episódio da vida de Einstein não pode deixar de nos recordar um sem número de cientistas de génio que foram incompreendidos na sua época. Por exemplo, Cauchy, declarou sem valor os trabalhos de Galois.

   E, como consequência disso, Galois entra desesperadamente em todo o tipo de lutas políticas e morre, ingloriamente, num duelo aos 21 anos.

   Para nós, passados mais de 50 anos sobre este acontecimento e agora que a História já deu o seu veredicto é-nos muito fácil acusar Ostwald ou Cauchy e, por indução, toda a ciência estabelecida opondo-a, num efeito fácil, aos jovens criadores. Esta atitude, se pode granjear êxito fácil aos seus defensores, ignora contudo o essencial do problema e tende mesmo a obscurecê-lo.

   Na Ciência desenvolve-se uma luta permanente entre o velho e o novo. Dos problemas novos que surgem, alguns podem ser resolvidos pelos métodos consagrados, enquanto outros exigem métodos radicalmente novos. E, entre estes dois tipos, há aqueles que apenas exigem uma ligeira modificação dos velhos métodos.

   Quando surge um novo problema o mais natural é tentar resolvê-lo pelos métodos que já deram as suas provas. Se estes métodos se revelam incapazes, é preciso criar novos. Mas, é natural que novos métodos de raciocínio, novas concepções da Natureza demorem algum tempo a ser  adoptadas. Têm que mostrar o que valem, ser sujeitos à crítica até que se afirmem e sejam aceites. Ou, então que sejam rejeitados e caiam no esquecimento.

   Parece-me que a condição a tirar deste episódio da vida de Einstein não deve conduzir-nos a uma acusação de Ostwald ou Cauchy. O que é preciso é olhar para Einstein, para a persistência que o levou a ultrapassar a crise pessoal e a continuar, apesar de grandes dificuldades momentâneas, a sua luta pelo avanço do conhecimento da Natureza.

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